quarta-feira, 16 de julho de 2014

O ato de Educar como prolongamento do ato de gerar




“Gerando no amor e por amor uma nova pessoa, que traz em si
 a vocação para o crescimento e para o desenvolvimento, 
os pais assumem por isso mesmo o dever de ajudar eficazmente 
a viver uma vida plenamente humana”¹

Entre mudanças físicas e a reorganização do ambiente, ao gerar um novo ser, os pais sentem o coração dilatar-se por toda a vida. Pelo menos, assim espera-se que o bebê seja acolhido, querido, amado e investido. Entre o fato real e o sonho, vive-se o amor da esperança, dos desejos e propósitos e assim, pai e mãe constroem os primeiros esboços do ato prolongado ao gerar: o educar. Essa construção ocorre de forma pessoal e também como casal. De filho passa-se a ser pai. Ela que tanto gritou pela mãe, agora é a mãe que dará a resposta. Eles que tiveram seus responsáveis, agora são os responsáveis. 

 A paternidade e a maternidade assumem seus contornos de forma processual na medida em que a vocação é assumida. Ao nascer um filho, nasce uma mãe e nasce um pai.  Educar se dá nessa continuidade, nesse querer ser e estar para o outro.

O termo “educação” vem do latim e-ducere: “conduzir para o exterior o que está no interior, fazer crescer, ir além dos limites próprios”. Encontramos também a derivação educare: “ação de formar, instruir, guiar”. Nessa perspectiva, a educação pode ser vista como um processo constante e constituído de ações inter-relacionadas que regulam, equilibram e estimulam o ser humano em busca de um fim, de um sentido que o norteará.

A educação tem sido uma tarefa cada vez mais urgente e desafiadora. Em uma época com tantas inovações, transições e instabilidades de toda a ordem, precisamos buscar as referências, os princípios e valores que nos regem, para assim termos presente quem somos e quem somos chamados a ser para nossos filhos.

Então, qual a melhor forma de educar? Como educar alguém tão precioso para nós? Mantendo sempre sob o nosso controle? Deixando-o livre para fazer todas as suas escolhas? Qual o melhor caminho? 
A resposta está sempre no equilíbrio, na ordenação entre aquilo que compete aos pais e as necessidades e estímulos para o momento em que o filho se encontra.

Por mais que haja técnicas, sugestões e informações relevantes, o olhar mais primordial é a identificação de um filho como pessoa única, com vocação para o desenvolvimento e do qual somos os primeiros responsáveis. Nossa responsabilidade inclui formarmos, instruirmos e guiarmos cada filho para irem além, trazendo para o ambiente as suas contribuições, posicionamentos e características próprias, fazendo o diálogo entre o que recebem desse meio e o que internalizam: “Tu faz a diferença no mundo e no nosso mundo” – aqui o ser humano assume o seu valor de ser amado e querido de forma pessoal.

Como pessoa, o filho traz em sua interioridade o germe potencial para o desenvolvimento de si e das relações com o meio em que vive. Os pais são convocados a contribuir ativamente por meio educativo para que os filhos desenvolvam suas potências nas dimensões: física, emocional, intelectual, social e espiritual. Essa integralidade do ser equilibra e estrutura com segurança e suporte a vida humana.
           
Diante disso, torna-se propício o questionamento pessoal e como casal:

Que pessoa estamos ajudando a formar?
Para que consciência de mundo?
Com que valores e propósitos?
O que realmente tem educado?
O que o deseduca?
As correções que fazemos são realmente educativas?
Há coerência entre nossa palavra e nossa ação?
Nossa postura e conduta revela o valor que nosso filho tem para nós?

 Não há ato paterno ou materno que passe indiferente na vida de um filho.  Por isso a importância de termos presente o valor de uma educação que promove, perdoa, dignifica, limita, corrige e dá nova possibilidade. Não o deixa no abandono ou incerteza existencial. Muito de nossa ação conduzirá sua infância e adolescência, trazendo contribuições para a constituição de sua personalidade e consciência. Porém nem tudo será absorvido, sobretudo se acreditarmos numa educação pautada somente nas palavras. Ainda que as palavras tenham relevância, os exemplos, escolhas e condutas são bem mais educativos. Crianças se incomodam com a incoerência entre o discurso e a prática dos pais, adolescentes não a toleram. E assim, nos desafiam a buscarmos também o nosso equilíbrio e estabilidade, enquanto adultos e enquanto pais. 

“A boa educação é aquela que se adianta ao desenvolvimento”². Que grande bem faz esse cuidado repleto de práticas de amor, bem querer e respeito. O maior investimento materno e paterno é o olhar para o filho e vê-lo como alguém com competência, digno, capaz de avançar na potencialidade de ser e de se relacionar. Assumir-se como influência positiva na sua vontade de viver, de ir além, de se superar e de pensar por si mesmo, valorizando o pensamento do outro. Que alegria se cada filho identificar o valor da contribuição que pode dar a vida comunitária ao olhar para a vivência presente no lar que não se furtou de educá-lo. 
Fraterno abraço,

Patrícia Espíndola de Lima Teixeira - Psicopedagoga, esposa e mãe. Membro do Movimento das Equipes de Nossa Senhora, da Missão Tabor e do Programa Água Viva.
* Artigo publicado no site http://www.alianca.fm.br/formacao no mês de junho/2014.

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(1) Exortação Apostólica Familiaris Consortio, 22.11.1981, n.36.
(2) Citação de Lev Vygotsky, psicólogo bielo-russo, que enfatiza a aprendizagem humana como uma relação dialética entre o sujeito e o ambiente a seu redor – ou seja, o homem modifica o ambiente e o ambiente modifica o homem.


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