quarta-feira, 16 de julho de 2014

“Eis os frutos de nossa vocação!”


A frase acima foi dita por um casal com seus 50 anos de matrimônio, diante do Papa Francisco no Encontro do Papa com as Famílias, por ocasião do Ano da Fé, em outubro do ano passado. Diante de 80 mil pessoas, aquele casal apresentava seus filhos com seus esposos, seus netos e bisnetos como “frutos de sua vocação”. Era uma bela e numerosa família.

Observando aquela cena pensei no quanto a graça de Deus nos alcança profunda e diretamente através dos nossos filhos.  Não é só ter o filho como uma benção, mas é querer viver esta bênção, apropriando-se de um sinal claro e visível de nossa vocação esponsal. Um testemunho muito significativo que por sua simplicidade e consciência do ser família cristã, confronta a realidade com que grande parte das famílias atuais tem se apresentado... poucos filhos ou nenhum, sem a busca da vivência do Sacramento do Matrimônio, pouco investimento na relação de amor e cumplicidade entre os esposos, para citar o mínimo.

Em alguns lares, há filhos sendo vistos como empecilhos para o desenvolvimento profissional, acadêmico (e até matrimonial!), um impedimento para os confortos e realizações pessoais ou um investimento oneroso demais, gerador de alto custo. Ouve-se ainda seguidamente a frase: “Não tenho coragem de colocar um filho no mundo de hoje em dia, não do jeito que está!” ou ainda: “queremos ficar muitos anos sem filhos para aproveitarmos bem nosso casamento. Somente quando estivermos maduros o suficiente teremos filhos”. É preciso ter cuidado com essas visões limitadoras da ação divina. Nós, cristãos, não podemos cair na armadilha desses discursos prontos. Escolhas feitas somente na visão humana, sem a busca do amparo divino, tendem a ser frágeis, parciais e desfocadas.

Pais e mães são convidados à reflexão do amor-doação de Deus Uno e Trino, como cooperadores da obra da criação: uma só natureza em pessoas que se complementam e transcendem gerando um novo ser.  Que belo pensar em nossa família assim: o amor que transborda em nós torna-se vida na pessoa de nosso filho. O amor que corre, que brinca, que sorri. É a graça de Deus personificada e entregue de forma confiante a nós para que o eduquemos para a felicidade plena. Não para o acúmulo de alegrias pouco duráveis. Inserido em um meio que o deseja, o acolhe e contribui para seu desenvolvimento integral, vemos ocorrer a concretude do amor-doação. Educar um filho é fácil? Não. É difícil? Depende. Depende de como o enxergamos e de como nos enxergamos. Sempre haverá desafios. Cada etapa do desenvolvimento infanto-juvenil traz suas vitórias e seus pontos de maior atenção. Mesmo pais de adultos relatam o olhar contínuo de cuidado com os filhos.

Pais e mães responsáveis conhecem a doação constante... doa-se o tempo, doa-se o sono,  o colo, o afago, o material,  doa-se algumas escolhas, doa-se o ser. O cansaço aparece, o esforço aumenta, nossa fragilidade se revela, alguns sonhos são postergados ou adiados. E é bom que isso aconteça, pois se destina a um bem maior. O amor para ocorrer de forma efetiva, precisa nos desafiar a irmos além de nós mesmos, caso contrário não é amor verdadeiro, não há amadurecimento, não há superação de frustrações.  O verdadeiro amor é aquele que enfrenta e vence a dor, não é assim que Jesus nos ensina? Não é assim que a Mãe de Deus nos testemunha? Não foi assim que José deu seu sim?

O que se ganha com tanta dedicação? A redenção da família de fé. A plenitude da graça reconfortante, norteadora e generosa de nosso Deus. Deus não nos abandona, Ele nos capacita e fortalece. Nos apresenta os meios e os caminhos no tempo certo. Sua graça nos conduz para sermos pais cada vez melhores na medida em que nos doamos aos nossos filhos para que eles conheçam o Bem através de nós. Porém, atenção: doar-se aos filhos é também saber dar limites a eles. Não é dar tudo, não é ser “bonzinho”. É oferecer aquilo que ele necessita para crescer de forma íntegra, saudável, madura e responsável, à luz da fé cristã.

Rogamos para que a Sagrada Família, modelo de toda a família cristã, continue a interceder por nossas famílias. Que Maria nos ensine a sermos mães dignas de nossos filhos. Que José, grande pai cuidador, seja exemplo de fortaleza e serenidade aos pais. E que Jesus, Filho de Deus que elevou a família ao se encarnar e ao nascer em seu seio, seja o centro de nossas ações.

Fraterno abraço,
Patrícia E. de Lima Teixeira
* Artigo publicado no site http://www.alianca.fm.br/formacao no mês de abril/2014.

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